Na universo da mitologia da mitologia celta, uma criatura se destaca pelo seu caráter enigmático e caprichoso: o Pooka. Também conhecido como Phooka ou Puca, este ser místico é uma das figuras mais intrigantes dos folclores irlandês, gaulês e escocês. O Pooka é um metamorfo, capaz de assumir diversas formas, desde animais comuns até formas humanas e híbridas. No entanto, todas as suas formas compartilham um traço característico: o pêlo ou cabelo preto.

Neste artigo, vamos conhecer suas principais características, as lendas associadas a estas criaturas e como eles interagem com o restante do folclore celta.

O que são os Puca?

Os pookas (ou púcas) são criaturas sobrenaturais da mitologia celta, que podem assumir várias formas, como cavalos, coelhos, cabras, cães e até humanos com características animais. A aparência mais comum do pooka é a de um grande cavalo negro com olhos brilhantes, geralmente descrito com uma aura sinistra e uma presença intimidadora.

Os Pookas são conhecidos por suas travessuras e comportamento imprevisível e, por vezes periogoso. Porém, nem sempre causam mal, sendo assim considerados espíritos com uma natureza ambígua: tanto podem ajudar quanto atormentar aqueles que encontram. Em algumas histórias, eles aparecem para assustar as pessoas durante a noite ou para induzi-las a longas viagens noturnas em suas costas, deixando-as desorientadas em lugares distantes.

No entanto, também há lendas que retratam os pookas como protetores das colheitas ou criaturas que transmitem mensagens importantes. Sua natureza mutável e enigmática torna difícil prever suas intenções, reforçando o respeito e o medo que inspiram nas comunidades. Para se protegerem, as pessoas costumavam evitar cruzar caminhos onde um pooka poderia estar ou deixavam oferendas, na esperança de agradar a essas misteriosas criaturas.

Principais Características

Como pudemos ver acima, suas principais caracísticas são:

• Comportamento: Os pookas são criaturas ambíguas e imprevisíveis. Embora possam ser inofensivos e apenas travessos, também podem causar medo e caos. São vistos tanto como guardiões das florestas quanto como espíritos que impõem respeito devido à sua natureza enigmática.
• Relação com os Humanos: Embora existam histórias onde pookas ajudam as pessoas, eles são mais frequentemente evitados. Muitos aldeões deixam oferendas em locais específicos para agradá-los e garantir proteção para si e para suas colheitas.
• Habilidades: Além de suas habilidades de metamorfose, os Pookas também são conhecidos por sua capacidade de falar a língua humana. Eles costumam usar essa habilidade para enganar ou confundir os humanos.
• Formas: Os Pookas podem assumir a forma de cavalos, coelhos, gatos, pássaros e até mesmo humanos. Independentemente da forma que assumem, sempre têm pêlo ou cabelo preto. Em sua forma humana, são descritos como pequenos homens de olhos cintilantes e sorriso astuto.

Além disso, vale salientar que, normalmente, os pookas aparecem durante a noite, especialmente em locais isolados e montanhosos. Encontros com essas criaturas costumam acontecer em áreas rurais ou próximas a campos e bosques.

Mitos e Histórias

Ao longo da história, os Pookas têm desempenhado um papel importante em muitos contos e lendas. Aqui estão algumas das histórias mais famosas:

• Passeio Noturno com o Pooka: Uma das lendas mais famosas diz que, em sua forma de cavalo, o pooka sequestra viajantes desavisados e os leva para passeios assustadores por áreas remotas. Ao final da noite, o pooka deixa a pessoa em um local desconhecido, desorientada, mas ilesa, embora muitas vezes aterrorizada.

• Guardião das Colheitas: Em algumas histórias, o pooka é visto como um protetor das colheitas, ajudando a garantir que parte dos grãos permaneça saudável e produtiva. Por isso, em certas regiões, era comum os fazendeiros deixarem parte da colheita para o “Pooka’s Share” como uma oferenda, para evitar que ele destruísse as plantações.

• Brincadeiras e Travessuras: Conhecidos por sua natureza travessa, os pookas frequentemente pregam peças em humanos e animais, como desarrumar casas, assustar rebanhos ou mesmo sussurrar em seus ouvidos. Essas travessuras geralmente são inofensivas, mas servem para manter a reputação dos pookas como espíritos brincalhões.

• A Lenda de Brian Boru e o Pooka: Uma das lendas mais antigas conta que Brian Boru, um lendário rei irlandês, conseguiu dominar um pooka. Diz-se que ele fez um pacto com o pooka, ordenando que ele parasse de causar estragos e de assustar os aldeões, e que limitasse seus ataques às noites de Samhain, o antigo festival celta de ano-novo.

• Aparições na Noite de Samhain: Durante o Samhain, que marcava a transição para o inverno, os pookas supostamente se tornavam ainda mais ativos, aproveitando o clima sobrenatural da data para atormentar os humanos. Essa tradição fazia parte do imaginário popular, reforçando a ideia de que os pookas eram espíritos poderosos ligados ao outro mundo.

• A Pooka como Conselheiro: Em algumas histórias, o pooka não é apenas uma ameaça ou brincalhão, mas também um conselheiro que dá conselhos enigmáticos e mensagens proféticas. Acreditava-se que ele podia prever o futuro e orientar humanos em decisões importantes, embora suas orientações nem sempre fossem claras ou diretas.

Além disso, muitas outras lendas permeiam a figura dos puca, já que esta figura remonta aos tempos antigos da cultura celta, possivelmente antes da chegada do Cristianismo na Irlanda, que ocorreu entre os séculos V e VI d.C. Esses seres místicos estão profundamente enraizados nas tradições orais celtas, que valorizavam os espíritos da natureza e acreditavam que o mundo era habitado por várias criaturas sobrenaturais.

Impacto na Cultura e Folclore

Na cultura contemporânea, os pookas continuam presentes em várias mídias e referências culturais, reforçando seu legado como criaturas ambíguas e fascinantes da mitologia celta. Um dos exemplos mais conhecidos é o filme clássico Harvey (1950), onde o personagem principal, interpretado por James Stewart, acredita ter como amigo um pooka chamado Harvey, um coelho invisível de grande tamanho. Harvey representa o lado mais travesso e enigmático dessas criaturas, que podem aparecer como aliados ou espíritos brincalhões, e o filme explora temas de aceitação e amizade entre o homem e o sobrenatural.

No campo literário, os pookas também aparecem em obras como o romance The Good People, da autora irlandesa Hannah Kent (disponível somente em inglês), que explora o folclore celta e o impacto das crenças antigas nas comunidades rurais. A presença dos pookas como seres sobrenaturais é tratada de forma quase reverencial, mostrando como o folclore irlandês ainda influencia a vida e as decisões das pessoas. Além disso, os pookas aparecem em jogos de fantasia e RPGs, como Dungeons & Dragons, onde assumem formas variadas que remetem ao seu papel como criaturas metamórficas e imprevisíveis. Esses exemplos mostram como o mito do pooka é adaptado para o entretenimento moderno, mantendo-se relevante e inspirador em uma variedade de contextos culturais.

O Pooka também tem um grande impacto na cultura e no folclore irlandês. Eles são uma parte importante das histórias contadas durante o Samhain, o Ano Novo celta, quando acredita-se que o véu entre o mundo dos humanos e o mundo dos espíritos é mais fino, sendo sua figura lembrada em rituais e peças teatrais, onde é visto tanto como uma entidade que pode trazer prosperidade quanto como um espírito que exige respeito, mantendo assim vivos os elementos da tradição oral e o mistério das lendas sobre os pookas.

Matheus Cunha

Matheus Cunha é um entusiasta das mitologias asiáticas, dedicado a explorar e compartilhar as ricas tradições e crenças desse patrimônio cultural diversificado. Sua paixão pelos mangás, filmes e mitos asiáticos o motivaram a criar e manter o Mitológiko e compartilhar parte de suas pesquisas e conhecimentos. Seu maior sonho é conhecer o Japão.